quinta-feira, 15 de março de 2012

Coordenador do MST diz que uso de agrotóxicos emlavouras brasileiras segue lógica do lucro

O uso de agrotóxicos nas lavouras brasileiras, como forma de elevar a
produtividade no campo, foi criticado pelo coordenador do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), JoãoPedro Stédile, que
participou de aula inaugural da Escola Nacional de Saúde Pública
(Ensp), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O assunto foi debatido
como parte da preparação da instituição para a Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, queserá realizada
em junho, no Rio de Janeiro.
De acordo com o ativista, que lançou no ano passado a Campanha
Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, o Brasil deveria proibir
totalmente o uso desse tipode produto. Ele acredita que a utilização
dessas substâncias está ligada apenas à lógica mercadológica de
aumento de lucros.
"O crescimento do uso de agrotóxicos no Brasil não tem a ver com
necessidade agronômica, com condições climáticas, mascom o modelo
atual do agronegócio, para conseguir produtividade e lucro máximos.
Por isso, é preciso conscientizar a população para que, num processo
de transição, cheguemos à [condição de] não utilização de nenhum tipo
de veneno agrícola", avaliou.
Stédile destacou que o Brasil é apontado como o maior consumidor de
agrotóxicos do mundo. Segundo ele, o consumo médio anual no país é 5,4
litros dessas substâncias por habitante e para cada hectare cultivado
são utilizados 16 litros deagrotóxicos.
"Não há cientista ou agrônomo que consiga justificar que, mesmo numa
agricultura tropical, sejam necessários 16 litros de veneno para
cultivar 1 hectare", lamentou.
Para o coordenador do MST, a saída para a produção de alimentos
saudáveis é o desenvolvimento da agroecologia, baseadaem experiências
de agricultores familiares, de comunidades indígenas e camponesas,
capazes de estabelecer uma nova relação entre sociedade e natureza.
O coordenador executivo da Assembleia Permanente de Entidades em
Defesa do Meio Ambiente do Rio de Janeiro (Apedema-RJ), Markus
Budzynkz, ressaltou que o fortalecimento da agricultura orgânica
representa uma forma de resistência ao crescimento do uso de
agrotóxicos.
Ele informou que somente no Rio de Janeiro há cerca de 460 produtores
orgânicos cadastrados, que trabalham paradifundir a produção e o
consumo de alimentos que não oferecem riscos à saúde.
"A situação é grave, mas há esperança de melhora com o fortalecimento
da cultura. É preciso aumentar a conscientização de produtores rurais
sobre a importância das práticas ambientalmente corretas e que os
consumidores deem preferência aos produtos certificados. Ainda que os
preços sejam algumas vezes maiores do que os produtos comuns, ao
consumi-los a população tem a garantia de que não vai ter prejuízos à
sua saúde", afirmou.
No fim do ano passado, a Agência Nacionalde Vigilância Sanitária
(Anvisa), órgão que coordena o Sistema Nacional de Vigilância
Toxicológica, divulgou o resultado de umaanálise feita em 2010,
constatando o usode agrotóxicos não autorizados no plantio de
determinados alimentos .
Entre as 2.488 amostras de alimentos analisadas, quase três em cada
dez apresentaram resultado insatisfatório para a presença de resíduos
dos produtos. Deste total, 605 (24,3%) amostras estavam contaminadas
com agrotóxicos não autorizados; em 42 amostras (1,7%), o nível de
agrotóxico estava acima do permitido; e em 37% dos lotes avaliados não
foram detectados resíduos de agrotóxicos. O pimentão liderava a lista
dosalimentos com grande número de amostras contaminadas por
agrotóxico, seguido por morango e pepino.
Fonte:Agência Brasil

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