quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Sanções contra o Irã ameaçam fluxo de alimentos ao país

KUALA LUMPUR/TEERÃ, 8 Fev (Reuters) - Surgiram mais evidências nesta terça-feirasobre o impacto das novas sanções ao Irã,com traders internacionais dizendo que Teerã está tendo problemas na compra dearroz, óleo de cozinha e outros produtos básicos para alimentar seus 74 milhões dehabitantes antes de uma eleição.
Novas sanções financeiras impostas pelos Estados Unidos desde o início deste ano, para punir Teerã por seu programa nuclear, estão corroendo a capacidade do Irã de importar produtos e receber o pagamento por suas exportações de petróleo, disseram traders de commodities.
O Irã nega que as sanções estejam causando sérios danos à sua economia, mas apurações da Reuters nos últimos dias com traders de commodities de todo o mundo mostram sérias interrupções emsuas importações. Isso está tendo um impacto real nas ruas do país, onde os preços por alimentos básicos estão subindo.
O presidente da Coreia do Sul, Lee Myung-bak, esteve na Arábia Saudita na terça-feira, sendo o mais recente líder de um grande país importador de petróleo da Ásia a visitar o Oriente Médio em busca defontes alternativas de petróleo, uma vez que as sanções dificultam as importações da commodity iraniana.
Traders na Ásia disseram à Reuters na terça-feira que exportadores de óleo de palma da Malásia -fonte de metade do consumo iraniano de produtos alimentares usados para produzir margarina e doces- interromperam as vendas ao Irã, que não conseguiu pagar pelos produtos.
Isso ocorreu após as notícias de segunda-feira de que o Irã deu calote ao arroz importado da Índia, seu maior fornecedor, e de que embarques de milhoda Ucrânia foram reduzidos quase pela metade.
O arroz é um dos itens básicos da dieta iraniana. Com a queda da moeda local, o rial, os preços têm mais que dobrado para5 dólares o quilo em lojas do Irã, contra 2 dólares no ano passado.
O milho é utilizado principalmente como ração animal, e o custo da carne quase triplicou para cerca de 30 dólares o quilo, além do orçamento de muitas famílias iranianas de classe média.
As medidas têm tido um impacto dramático na vida diária do país, cujas eleições parlamentares serão em 2 de março, que devem colocar partidários do presidente Mahmoud Ahmadinejad contraopositores, considerados ainda mais conservadores.
Traders na capital da Malásia, Kuala Lumpur, disseram que os embarques de óleo de palma para o Irã foram interrompidos desde o final do ano passado, após as sanções dos Estados Unidos e da Europa dificultarem o uso de cartas de crédito e os pagamentos via intermediários nos Emirados Árabes.
"Eles continuam pedindo, no espírito de fraternidade muçulmana. O último que ouvi foi um pedido de 5 mil toneladas para entrega em fevereiro ou março, mas ninguém quer correr esse risco agora", disse um trader em Kuala Lumpur, em condição de anonimato enquanto discutiacontratos comerciais.
DURO GOLPE
Embora seja cedo para falar em fome por conta da alta dos preços dos alimentos noIrã, organizações internacionais se mantêm atentas diante do sinal de dificuldades.
Gaelle Stevenier, porta-voz do Programa de Alimentação Mundial das Nações Unidas, disse que a agência está"monitorando" a situação, mas não possuimais comentários.
O golpe final para a economia do Irã poderá ocorrer nos próximos meses, casose torne incapaz de vender os 2,6 milhõesde barris de petróleo por dia que está acostumado a exportar, ou caso seja obrigado a oferecer grandes descontos que encolham suas receitas.
Enquanto o Irã possui uma economia mais diversificada que outros grandes exportadores de petróleo do Golfo, exportações de do setor de energia ainda são a principal fonte de recursos para compra de alimentos e outras necessidades.
As sanções foram impostas para frear o programa nuclear de Teerã, o qual o Ocidente acredita ser usado para o desenvolvimento de uma bomba nuclear. Lideranças iranianas dizem que o programa é pacífico e estão dispostas a suportar as sanções para mantê-lo como direito nacional.
No mês passado, o Irã deu um passo importante ao iniciar a produção de enriquecimento de urânio em uma nova instalação, sob uma montanha, onde seriadifícil para aviões de guerra dos Estados Unidos ou de Israel conseguirem destrui-la.
(Reportagem adicional de Ruby Lian em Xangai, David Stanway e Judy Hua em Pequim, Cho Mee-young em Seul, Marwa Rashad em Riyadh, Ratanajyoti Dutta e Mayank Bhardwaj em Nova Dhéli e Alex Lawler em Londres)

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